foi tão corpo que foi puro espírito
Anna Veronica Mautner
Outubro de 2016
Ser escultor é se repetir até se agradar.
Amassar o barro, ralar a pedra ou quebra-la até mudar sua forma. O escultor se repete até cansar.
Não importa que a pedra rache e nem que a forma que escolhemos para mudar exija um cem números de ações repetitivas.
De repetições infinitas, surge uma forma, com dentro e fora.
Fazer um "ser" novo, surge sempre de um ato sexual que se realiza por uma serie de repetições. Muito "vai e vem".
Até que o objeto - pedra, barro, ferro, homem - ganhe a nova forma.
O escultor se repete até ficar satisfeito com a nova forma.
O homem se repete até gerar um novo ser.
foi tão corpo que foi puro espírito
Silvia Mecozzi
Outubro 2016
A frase de Clarice Lispector abre uma janela:
O sexo como condutor de espiritualidade, contradição entre corpo e espírito mistério que nos perpetua ânsia pela satisfação do eterno desejo de nosso ser incompleto.
Por mais que o sujeito seja ou esteja fragmentado pelas condições contemporâneas, e cada um de nós capte e sinta o mundo singularmente, nossa subjetividade não escapa de questões vitais como amor, o ódio, o medo e o grande tema existencial de nascimento e morte: necessidade de reintegrar uma totalidade.
A aventura de viver é seguir procurando significados poéticos para a existência.
Para o artista praticar a construção da obra, pela repetição das ações necessárias para que o objeto faça sentido, se torna um ritual... permanece a sensação de não saber exatamente como esses objetos se resolvem, mas é nesse processo ritualístico que eles tomam forma.
Intuitivamente fui construindo objetos que se referem ao corpo humano, nossa única possibilidade de estar no mundo...
Essa exposição é uma oferenda, um ato de amor, um alerta pra o pensar dos sentidos a partir do coração.